sexta-feira, 27 de fevereiro de 2009

O Surgimento do Abadá


Mais um carnaval passou... Os amigos todos vivos, embora bastante sequelados pela maratona alcoólica.

Nesse carnaval, pude notar o quanto depreciadas estão as vestimentas utilizadas pelos blocos e camarotes. O material utilizado parece descartável e o desenho (design para os mais enjoados) de péssimo gosto.
Isso sem falar no tamanho. Há algum tempo tenho reparado na estratégia de redução de custos por parte das agremiações (SIC!) de utilizar um tamanho único. Queria saber de quem foi essa idéia... O tamanho é único, único mesmo, pois ninguém mais no mundo tem o mesmo tamanho para poder vestir essas camisas.

Mas vamos a história do abadá...

Originalmente, o abadá era um tipo de bata ou camisolão branco usado pelos muçulmanos que aqui aportaram como escravos.

A palavra é de origem africana, do yorubá, trazida pelos negros malês para a Bahia.
Assim também é chamada, até hoje, a indumentária dos capoeiristas. É provável que essa bata que servia as orações também vestisse os jogadores da capoeira durante suas rodas. Existe a lenda de que capoeiristas usavam branco como forma de demonstrar suas habilidades: os melhores mestres da capoeira mantinham seus abadás impecáveis depois da luta.
No Carnaval de 1993, o designer Pedrinho Da Rocha, o músico Durval Lelys, da Banda Asa de Águia, e o Bloco Carnavalesco Eva lançaram um novo tipo de fantasia para substituir as antigas mortalhas.

Em homenagem ao Mestre Sena, antigo capoeirista e amigo, o designer batizou a nova fantasia de "abadá" que logo virou sucesso em todo país e terminou por popularizar essa palavra.

Até então a vestimenta utilizada era a mortalha tipo Filhos de Ghandi... Quase uma Burca, era completamente incompatível com o calor e movimentos da música dos anos 90 (imaginem hoje com movimentos como Kuduro e Pagode Favela??!?). Além disso, as mulheres da época, já buscando mostrar maior sensualidade, mandavam os panos para a costureira fazer roupas diferencias.
O problema é que as vezes de uma mortalha saíam 2 ou 3 fantasias tipo short+top.
Resultado: prejuízo para os blocos... Claro que isso acabou muito rápido.

O abadá, além de mais barato se tornou segurança de rentabilidade... Hoje não vejo mais abadás nas ruas, mas sim camisas de um tecido muito ruim e pouquíssima criatividade.
E o carnaval da Bahia já apresentou algumas novidades muito interessantes, como as fantasias do Bloco Cheiro de Amor, hoje restritas à um desenho no abadá (camisa), ou os shorts que acompanhavam o abadá num sacola muito disputada.
Que o carnaval da Bahia anda muito mal frequentado eu não tenho dúvida, mas nada se compara as 'fantasias' atuais...
Abraço!
Tchê

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

O BAxVI de Raudinei


A atual fase do Tricolor de Aço nos traz lembranças inesquecíveis da década de 90. Uma década dominada pelo rival, mas marcada por um jogo: decisão do campeonato baiano de 1994.

O jogo foi realizado na saudosa e eterna Fonte Nova. 10 mil Pituaçu's não poderiam ser comparados à boa e velha Fonte... Infelizmente marcada nessa década por uma tragédia que insiste em não sair da lembrança. Aqui, nossa eterna solidariedade aos familiares dos tricolores que nos deixaram naquele dia.

Mas voltemos ao foco! Que jogo! Que adrenalina! Que festa!! Lembro daquele dia como se fosse o jogo do fim de semana passado...

Naquele dia nem fomos pra praia. Era concentração total e a velha dor de barriga de final de campeonato tinha começado na 5a feira anterior à final. PQP! Não se falou em outra coisa na cidade naquela semana. Lembro que o almoço daquele domingo foi pontualmente 1/2 dia. Nem consegui comer direito... Precisava logo de uma gelada na Kombi do Reggae e até corri o risco num churrasquinho cheio de óleo e colorau.

A galera tava insana naquele dia. Alguma coisa me dizia que aquele dia ia ser de festa, mas o vice tinha um time arrumado, acho até que tecnicamente era melhor que o nosso e com certeza o ataque era a arma forte dos 2 times. Veja:

Bahia: Uéslei, Zé Roberto e Marcelo Ramos
Vice: Alex Alves, Dão e Pichetti

O público era de 97.200 pagantes!!! A torcida tricolor era de 70% do estádio, o que se pressupõe que todos os torcedores do vice existentes no planeta estavam lá.

O Bahia chegou na final com a vantagem do empate. O jogo era duríssimo o rival ganhava de 1 x 0 com gol de Dão aos 44 min do 1º tempo. A torcida rival fazia festa gritando ser campeão e calando a imensa maioria tricolor durante o intervalo e todo o 2º tempo. O jogo se aproximava do final aos 40 min do 2º tempo quando o gordinho, tricolor doente que deve sofrer de saudade em SP onde mora hoje, com os olhos cheio de lágrima me disse:

'-Cara, vâmo nessa. Fudeu...'

Nós começamos a descer da superior quando me veio aquela sensação sentida anteriormente na Kombi do Reggae que me fez disparar:

'- O jogo só acaba quando o juiz apita!'

Não dava mais pra voltar para superior, não esqueça eram 97 mil naquele dia!!, então resolvemos descer e nos penduramos no camarote (quem foi que chamou aquilo de camarote??!?), um curral de cerca de arame, quando Raudinei - o predestinado- fez falta em Dourado e o tempo fechou completamente no campo. Tava ficando bom!

Depois da confusão o jogo segue e aos 46 min do 2º tempo... 'quando a bola sobra para o goleiro Jean na intermediária defensiva. Ele chuta para frente. O zagueiro tricolor “Advaldo NBA” disputa pelo alto, leva a melhor, a bola vai para frente e quica. Ela sobra para Souza. O volante dá outro toque de cabeça e acha Raudinei na área. O atacante emenda de primeira, com a perna esquerda, e a bola passa por baixo do corpo do goleiro Roger, estufando as redes' - Do site oficial http://www.esporteclubebahia.com.br/

Eu não sabia se pulava, empurrava a montanha de peludo querendo me abraçar, limpava a cerveja que me acertaram na comemoração ou ria dos policiais que corriam desatinados da frente da torcida do rival para a frente da torcida do Bahia...

Depois disso não vi mais nada, ou melhor, não me lembro de mais nada. A comemoração se estendeu pelas redondezas da Fonte até a Barra, para onde partimos andando... Sim, andando! Era um mar de gente pelo 'circuito' Dique - Centenário - Orla - Farol.

Que saudade da FONTE!! Será que os bons tempos estão voltando...?

Bora BAÊA!!

Abraço!

Tchê

segunda-feira, 2 de fevereiro de 2009

Academia da Cachaça

Esse foi um lugar especial que existiu em Salvador nos anos 90.

Funcionava no atual hotel Monte Pascoal, na Barra, em frento à praia do Barravento. O pico era muito bem frequentado, apesar de pequeno.

Nos anos 90 nem se comentava na socialização que essa bebida passou há poucos anos.
Até o surgimento das Sagatiba's, Itagibá's, etc cachaça sempre foi sinônimo de chinelagem, mas ali a bebida exigia glamour.

A mulherada se arrumava para fazer um pré-night, óbvio, pois ninguém aguenta passar a noite bebendo cachaça... Pelo menos deveria não aguentar.

Havia muitos rótulos (não é vinho.. é cachaça mesmo!) e das mais variadas regiões do país. O destaque, e mais pedida, era o Coquinho. Uma mistura de aguardente com leite de côco açucarado que descia macio para quiemar forte no estômago.

As marcas mais tradicionais marcavam presença, especialmente as de Salinas: Chico Mineiro, Beija Flor, Havana, entre outras.

O problema era quando o cara se empolgava e começava a provar várias marcas... Aí o pré-night vira 'end-night', pois fazer qualquer coisa depois de umas 5 doses de cachaça é bem mais difícil. Sem contar o bafo de mendigo que dorme em praça que o cara fica!

Depois apareceram outros bares especializados na branquinha, que também pode ser dourada, amarelada, azul, etc, mas que contavam com o mesmo preconceito de ser chamado de cachaçaria, de forma pejorativa, claro.

O interessante é que hoje, com a socialização (quase descriminalização) da cachaça, existem poucos bares com esse apelo e mesmo bares tradicionais não tem uma carta de cachaça para oferecer aos seus clientes. Estão perdendo uma grande oportunidade, pois a cachaça além de aliviar o stress sabe como ninguém abrir o apetite.

Viva a cachaça!

Abraço!

Tchê